A malandragem ficou culta

Quando estudante, carreguei edições valiosas de grandes autores numa bolsa comum. Lembro que certa vez retirei um belíssimo exemplar de Gil Vicente da biblioteca da PUC, só para mostrar para meus alunos e tentar despertar neles alguma paixão. Era uma encadernação luxuosa, com letras góticas desenhadas à mão, com tinta dourada, até hoje não sei como me deixaram sair com aquela obra de arte. Claro que devolvi no dia seguinte, com medo de danificá-lo. Mas quando me perguntavam se não tinha receio de andar pra cima e pra baixo com livros, respondia que não tinha perigo algum, afinal, num país como o nosso, quem se importaria em roubar literatura?

Hoje, bandidos entram de cara limpa na Pinacoteca e embolsam (literalmente) as obras de arte. O Brasil mudou. A malandragem ficou culta.

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