iPad, que cazzo é isso?


“Há espaço para uma categoria entre os smartphone e o notebook. E precisávamos criar algo melhor do que um netbook”, com essa frase, Steve Jobs apresentou o iPad, uma espécie de prancheta eletrônica com o formato idêntico ao iPhone, provavelmente com as mesmas funções, mas num tamanho bem maior.

A tela colorida e de alta definição impressiona, deve ser realmente mágico ter numa única tela seus vídeos, livros, fotos, músicas, jogos, internet e o que mais a imaginação puder alcançar, tudo na ponta dos dedos, sem fios e outros penduricalhos, como teclado e mouse.

Mas, por mais entusiasmado que sou com equipamentos eletrônicos, chego a ser compulsivo por tecnologia, não consigo enxergar uma utilidade importante para que eu adote imediatamente essa novidade. Claro que muitos podem me acusar, afinal, já passei dos quarenta e quando nasci o aparelho doméstico mais sofisticado era uma TV preto e branco à válvula. De lá pra cá, não dá pra descrever o tamanho da evolução, o que era absurdamente dispensável virou equipamento de primeira necessidade. Talvez queime minha língua e em pouco tempo não consiga respirar se não tiver um iPad, mas agora me julgo completamente lúcido a ponto de afirmar que esse iPad é a coisa mais inútil que já vi nas mãos do ídolo dos nerds, Steve Jobs.

Explico. Em casa e no trabalho tenho à disposição um computador razoável com boa conexão de internet, com eles satisfaço minhas necessidades de trabalho e lazer tecnológico.

Se quero jogar, tenho à disposição minha coleção de videogames, ainda em uso, primeiro Xbox, Dreamcast, PS2, GameCube, Wii, PS3, sem contar os portáteis GameBoy e PSP, esse último até me permite acessar a internet Wi-Fi e jogar online.

Para fotografar não dispenso a companhia da minha FZ-18, com um zoom respeitável de 18X com a qualidade da lente Leica. Mas poderia muito bem me virar com a câmera do meu bom e velho V3.

Todas as minhas músicas cabem no meu Walkman da Sony, melhor e mais barato que um iPod que tem uma excelente qualidade de som e uma tela respeitável para ver meus vídeos em MP4. Um luxo, poderia ficar satisfeito com um MP3 genérico de camelô.

Não tenho cacife para ter um iPhone, nem menos um iPod Touch. Nunca me interessei em ter um Notebook, gosto de teclado espaçoso e mouse, com boa tela e som, odeio ser obrigado a desligar por falta de bateria, acabaria ligando na tomada e usando como um Desktop comum.

Concordo que para carregar os meus brinquedos preciso de um cinto de utilidades do Batman, com muito espaço também para os diferentes cabos, mas não carrego todos de uma vez, geralmente levo cada um para uma ocasião diferente, devidamente acomodados nos bolsos ou numa mochila. Esse iPad reúne todas as funções, mas também está longe de ser portátil. Nessa apresentação gostaria de ver o Mr. Jobs tentando enfiar esse gigante no bolsinho da calça, como costumou fazer nas apresentações do iPod.

Tento imaginar algumas situações do meu cotidiano onde poderia usar um iPad:

  • Sentando num banco de uma praça e sacando o aparelho para ler um livro. Será que a luz tropical me permitiria enxergar alguma coisa? Duvido. E quando me distraísse? Sobreviveria a um trombadinha que veria no aparelho uma oportunidade de dinheiro fácil? Livro ninguém rouba. O risco máximo é emprestar e nunca mais ver de volta. Sem violência.
  • Numa reunião de trabalho, com todos fazendo anotações como seres humanos normais, em agendas, papéis soltos ou até netbooks, saco esse iPad não sei de onde e começo arrastar o dedo por sua tela? Sou tímido demais pra isso e também jamais ousaria chamar mais atenção que a reunião.
  • No transporte público, quando finalmente consigo algum assento, revelo meu iPad para a lotação cansada e com um fone de ouvido bluetooth passo a assistir meus seriados favoritos? Duvido que consiga alcançar a porta de saída inteiro.
  • Talvez seja útil para o trânsito de São Paulo, no meio do engarrafamento encaixo o iPad entre a barriga e o volante e acesso meus emails, atualizo meu blog e twitto. Se estiver sozinho na parada, consigo fazer isso algumas vezes, mas se meu vizinho de congestionamento gostar da idéia e também sacar o seu e com o tempo o negócio se multiplicar, não demorará para virar uma infração de trânsito super-hiper-grave (super hiper grave?, superhipergrave?), tornando-me alvo preferido de marronzinhos.

Então, talvez, o único lugar que acabe sendo sossegado usar essa novidade seja quando estiver em casa, roubando-me o tempo que deveria brincar com meu filho e conversar com minha esposa.

Assim, não vejo outro destino para essa tranqueira tão festejada que não seja a lata de lixo. Mais um aparelho inútil que exerce com maestria a função de poluir o planeta e arrancar a grana dos nerds.

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